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Levantamentos realizados na década de 80, especialmente em virtude a captura para o comércio nacional e internacional, a descaraterização do ambiente e a coleta de penas para confecção de souvenirs, fizeram com que mais de 10 mil araras azuis (Anodorhynchus hyacinthinus) saíssem da natureza, o que a levou a constar na lista de espécies ameaçadas de extinção. Com isso, a espécie passou a constar (no Apêndice I do CITES, no Red Data Book e na Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção. Os principais fatores que levaram a espécie ao declínio.

Em 1989, bióloga Neiva Guedes, ao encontrar um bando de araras-azuis no Pantanal, encantou-se com a espécie, especialmente por saber que elas estavam fadadas a desaparecer da natureza. Em 1990, o Projeto Arara Azul nasceu de uma iniciativa pessoal de Neiva Guedes que passou a ser um exemplo de esforço e dedicação pela proteção da espécie na natureza.

Logo no começo dos seus estudos, Neiva Guedes passou a lidar com a espécie como uma bandeira para a conservação do Pantanal, aplicando a
visão holística para a proteção do ecossistema. A bióloga defende que as ações nesse tipo de projeto não devem ser direcionadas exclusivamente à espécie, sendo importante considerar o meio ambiente como um todo. Portanto, ela enfatiza que a proteção e recuperação do habitat, a disseminação e a educação ambiental são ações que devem ser integradas na hora de se elaborar um plano de conservação. Ressalta a importância do trabalho conjunto de vários grupos: equipes de especialistas interdisciplinares, população local, voluntários, turistas, agentes governamentais, entre outros.

Ao longo dos seus quase 35 anos de trabalho incansável no Pantanal, muitos resultados positivos foram obtidos. Entre as ações do Projeto Arara Azul em prol ao aumento e manutenção da espécie, estão os ninhos artificiais desenvolvidos e implantados ao longo dos anos, sendo uma tecnologia pioneira e inovadora que beneficia a espécie e tantas outras que passaram a ocupar estas cavidades.

Em 2003, por iniciativa de Neiva Guedes, foi criado o Instituto Arara Azul que passou a dar o respaldo legal ao projeto Arara Azul. Juntamente com o Arara Azul, outros projetos passaram a fazer parte de importantes pesquisas para a conservação. Porém, como premissa, a educação ambiental sempre esteve permeada nas ações para a conservação, onde os resultados das pesquisas científicas são transformados em informações com uma linguagem simples e adequada a cada público.

Em dezembro de 2014, e espécie foi retirada da Lista Oficial de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, porém os reflexos não foram animadores. O tráfico voltou a crescer, porque as punições ficam menos duras para os criminosos pegos com as aves ou seus ovos. Além disso, outros fatores têm deixado a espécie muito vulnerável, como as mudanças climáticas oriundas do aquecimento global, que afetam o sucesso reprodutivo, os desmatamentos, doenças pela baixa imunidade e os vastos incêndios que foram acentuados e nos últimos anos, tanto no Pantanal Sul como no Pantanal Norte, que dizimaram grandes áreas se suma importância para a espécie. Outro fator preocupante que Neiva Guedes tem concentrados os esforços para combater é o turismo não responsável que utiliza o animal silvestre como entretenimento, pois vêm potencializando problemas que afetam a espécie diretamente, como por exemplo as doenças.

Então mais do que nunca a ciência cidadã, através dos princípios da educação ambiental, passou a ser um mote importante em todos os projetos e ações da instituição. E a arara-azul-grande, um símbolo de beleza, carisma e resiliência é um porta-estandarte muito valioso pela causa.

A educação ambiental pode ser definida como um processo que visa o desenvolvimento, através da informação e da sensibilização, de uma
população consciente e preocupada com o ambiente e com os problemas que lhe são associados. É uma ferramenta que envolve conhecimentos,
habilidades, atitudes, motivações e compromissos para trabalhar individual e coletivamente na busca de soluções para os problemas existentes e para a prevenção de novos. É uma abordagem que transcende a educação formal e pode ser implementada a diferentes públicos.

Considerada, especialmente nos dias de hoje, como indispensável, a educação ambiental é capaz de mudar percepções, conceitos, preconceitos e comportamentos, e pode se multiplicar exponencialmente nos diferentes públicos da sociedade.

Desde o início do Projeto Arara Azul, Neiva Guedes envolveu várias pessoas nas suas atividades científicas, especialmente no campo, onde precisava engajar os pantaneiros na conservação da espécie. Programas de rádio, que na época era o meio de comunicação com maior alcance no Pantanal, através de spots e entrevistas, as informações chegavam nas fazendas, levando o conhecimento e compreensão sobre a importância da conservação da espécie e da biodiversidade. Com o passar do tempo, as ações foram ampliadas atingindo vários públicos, que passaram a contribuir com os objetivos do Instituto Arara Azul, assumindo um papel de agentes “defensores” na proteção ambiental.

As atividades educacionais informais levam aos públicos oportunidades de aprendizagem, prazer pessoal, benefícios sociais e satisfação em contribuir com os projetos de pesquisa. Isso proporciona o maior envolvimento do público e uma democratização da ciência. A partilha do conhecimento que o Instituto oferece é organizada em várias atividades para os diferentes públicos e faixa etárias, proporcionando uma linguagem adequada para a compreensão do público envolvido.

Com as atividades de educação ambiental indo ao encontro da ciência cidadã, o envolvimento da comunidade local, que passou a prestar mais atenção na natureza, nas espécies e suas relações ecológicas, têm aumentado. Muitos proprietários passaram a conservar áreas de plântula de manduvi, fazer plantio e replantio de mudas de manduvi e cuidar das araras, da fauna e dos ninhos. Para o público adulto, urbano e rural, o instituto abrange professores, proprietários e funcionários rurais, empresários e outros profissionais das diferentes áreas de atuação e, especialmente as comunidades no entorno do Pantanal. O turista é dos exemplos que consideramos muito importante ressaltar, pois atrelados aos projetos de pesquisas, o Instituo Arara Azul disponibiliza o turismo de observação, onde o visitante pode acompanhar as equipes dos projetos de pesquisas e participar de um turismo responsável.

Atividades educativas com o público infanto-juvenil são desenvolvidas nas escolas, na sede do Instituto Arara Azul, na sociedade organizada e nas comunidades locais, em forma de oficinas, palestras, teatros, expedições mirins, entre outras. Tanto nas comunidades rurais como nas urbanas, os alunos são fundamentais no processo de aprendizagem e de multiplicação junto aos colegas, amigos e suas famílias. Para exemplificar, os resultados obtidos com essas ações educativas têm demonstrado o engajamento dos professores e alunos, sendo que as atividades educativas são difundidas em várias disciplinas, gerando eventos como feiras, exposições, concursos e expedições com a equipe de pesquisadores.

Nos próximos artigos para a @faunanews, vamos abordar cada experiência e o quanto, juntos, podemos engajar a nossa sociedade com ações que vão ao encontro da conservação da biodiversidade.

Fonte: Arquivos do Instituto Arara Azul.

Texto por: Eliza Mense

Bióloga, pós-graduada em educação ambiental e gestão empresarial, com 36 anos de experiência em gestão de projetos sociais e ambientais. Desde 2014, faz parte da Diretoria Executiva do Instituto Arara Azul, desenvolvendo ações de gestão e de sustentabilidade financeira para a execução de projetos de pesquisa e conservação.