Nos dias 16 e 17 de agosto de 2024, aconteceu o primeiro BIG DAY das Araras-Azuis (Anodorhynchus hyacinthinus), a maior ação de mobilização para a contagem da arara azul, já realizada para a espécie, no mundo. O evento reuniu biólogos, voluntários, observadores de aves, guarda-parques, instituições parceiras, plataformas digitais, empresas e comunidades locais em três países da América do Sul: Brasil, Bolívia e Paraguai (vide parceiros no final).
Ao todo, foram contabilizados 1.275 avistamentos da espécie em seu ambiente natural, sendo 897 araras-azuis no Brasil, 359 na Bolívia e 19 no Paraguai, país onde estava praticamente extinta e agora começa a repovoar. Vale destacar que dois registros, um de araras azuis em Brasília e outro de várias araras (acreditamos tratar-se de araras-canindé) em Pauliceia, no interior de São Paulo. Esses dois registros não foram contabilizados por se tratar de araras azuis criadas a mão e soltura.
Os registros foram reportados através das plataformas digitais E-bird, Google Forms, Wikiaves, Biofaces e Whatsapp através de número específico para essa ação. O maior número de registros foi obtido em primeiro lugar pelo WhatsApp, seguido do GoogleForms. E além das 1275 araras azuis, outras grandes araras, foram observadas, como araras vermelhas, araras cangas e araras canindé, mas não contabilizadas neste total.
Brasil: a maior contagem
No Brasil, a contagem das araras azuis se espalhou pelos biomas Pantanal, Cerrado e Amazônia, em quatro Estados: Mato Grosso do Sul, Pará, Mato Grosso e Goiás.
Em Mato Grosso do Sul (MS) foram obtidos 27 registros, totalizando 409 araras azuis, garantindo ao Estado a liderança na contagem nacional. Reuniram-se mais de 50 pessoas organizadas em equipes, nas cidades de Aquidauana, Camisão, Corumbá, Coxim, Jardim, Miranda, Nova Esperança e Terenos, com os maiores números de araras avistadas nas cidades de Miranda (230), Aquidauana (137) e Corumbá (20). O Instituto Mamede foi fundamental na mobilização dos observadores de aves e amantes da natureza, espalhados pelo Estado.
No Estado do Pará, em Canaã dos Carajás, um total de 48 pessoas, divididas em grupos durante os dois dias, envolvendo os colaboradores da Vale e a equipe de campo do Projeto Arara Azul fizeram os registros. Esses grupos percorreram diversos pontos de ocorrência da espécie, fazendo censo durante o dia e realizando contagem simultânea nos dormitórios, no final das duas tardes, em cinco locais, contando também com a participação ativa da comunidade local. O esforço resultou em 12 registros e um total de 335 araras azuis, além da observação de outras aves, envolvendo a comunidade e a ciência cidadã.
Em terceiro lugar no ranking nacional, o Mato Grosso alcançou a contagem 151 araras azuis. Destaca-se a participação dos observadores Roseno e Gonçalo (Pixico), de Poconé, representantes da comunidade local e parceiros de longa data do Projeto Arara Azul, que juntos registraram um total de 83 araras, além das contribuições de instituições como o SESC Pantanal (8 araras) e Onçafari (26 araras).
Em Goiás (GO), o grupo OIA Passarinhar mobilizou 6 integrantes em 2 áreas de ocorrência da espécie: Terra Ronca (GO) e no Parque Nacional Grande Sertão Veredas (MG). As araras foram registradas somente em Terra Ronca, somando 2 araras. Lembrando que onde houve pessoas contando, como no Parque Nacional Grande Sertão Veredas, e a ausência de araras foi constatada, tem um significado importante para os estudos.
Infelizmente não houve registros nos estados de Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia, onde sabemos que a espécie também ocorre.
Na Bolívia, 29 pessoas, entre os quais, 13 guardas-parque da Reserva de San Matias, participaram ativamente da ação, cobrindo 23 pontos de contagem durante os dois dias da campanha, cobriram quase 100% da área de distribuição da espécie naquele país. O resultado foi expressivo: 359 araras-azuis registradas em diferentes áreas de ocorrência da espécie. Os parceiros Mauricio Herrera (Museo de História Natural Noel Kempff Mercado), Fundación CLB e SENARP (Servicio Nacional de Áreas Protegidas) foram fundamentais para a mobilização da sociedade no país vizinho. Os guardas-parque e a comunidade, juntamente com a CLB foram fundamentais para os registros, considerando que no dia 07 havia eleição para Presidente do país e as pessoas não podiam realizar grandes movimentações.
No Paraguai, onde a espécie chegou a ser considerada quase extinta nos últimos anos, a contagem foi realizada em 5 pontos distintos. Em um deles não foram encontrados indivíduos, mas nos outros houve o registro de 19 araras-azuis, marcando um reencontro histórico e de grande significado para a conservação.
Importância da campanha e próximos passos
O BIG DAY das Araras-Azuis demonstrou o poder da ciência cidadã e da cooperação entre países para o conhecimento e a conservação da biodiversidade. É importante ressaltar que, mesmo não sendo avistadas as araras azuis no momento da contagem, as pessoas puderam observar a biodiversidade e se aproximar mais da natureza, observando outras espécies. Além de gerar dados atualizados sobre a distribuição da espécie, a ação fortaleceu laços entre comunidades locais, pesquisadores e organizações de conservação.
A expectativa é que, nas próximas edições, ainda mais pessoas se engajem na atividade, ampliando a cobertura geográfica e o número de registros. Como destaca a equipe do Instituto Arara Azul, “conhecer onde as araras-azuis estão presentes é essencial para garantir sua proteção e o futuro da biodiversidade”.
Quantas araras azuis existem na natureza?
Essa era a principal pergunta que queríamos responder, mas ela ainda persiste. Para Neiva Guedes, que dedica mais de três décadas ao estudo desta espécie, “esse número de 1.275 indivíduos representa em torno de 20% das araras azuis ocorrentes na natureza” (Guedes et al, 2008). Uma espécie extremamente especializada na alimentação e consequentemente limitada ao habitat. Que é resiliente, pois está aqui antes do descobrimento das Américas, mas ao mesmo tempo susceptível, devido a própria história de vida, e vulnerável por vários outros fatores como o tráfico, a perda e alteração do habitat, as mudanças climáticas entre outros.
As equipes do Instituto Arara Azul que realizaram a facilitação e mobilização, atuaram simultaneamente na Amazônia, Pantanal e Cerrado, regiões que concentraram o maior número de registros nacionais. Porém, houve uma lacuna de registros em vários locais conhecidos de ocorrência da espécie, tanto em algumas sub-regiões do Pantanal, como nos Estados de Tocantins, Maranhão, Piauí e Bahia que não foram documentados. Desta forma, esperamos melhorar a contagem em 2026, com a efetiva presença das comunidades em todos os locais de ocorrência natural. Esperamos envolver mais pessoas, principalmente no campo, para obtenção dos registros, de forma que se consiga uma amostragem mais real da espécie na atualidade.
Este ano, o grande resultado e que devemos comemorar, sem dúvida nenhuma, é a mobilização das pessoas, considerada um marco! Uma iniciativa pioneira que uniu ciência e engajamento da comunidade. Contamos como o apoio desde pessoas muito simples em zonas rurais no interior dos três países, até grandes mobilizações nas cidades, com crianças, estudantes, biólogos, guias e outros profissionais. O número de pessoas direta e indiretamente atingidas, principalmente pelas redes sociais, foi surpreendente! Somente nas redes do Instituto Arara Azul, 137.726 pessoas foram alcançadas, com 203.292 visualizações e 8.253 interações, onde tomaram conhecimento e curtiram as informações nas redes sociais do Instituto Arara Azul e de todos os parceiros desta ação. Numa celebração da vida, da natureza em prol da biodiversidade.
Sobre o Instituto Arara Azul
Idealizado e liderado pela bióloga e cientista, doutora Neiva Guedes, o Projeto Arara Azul nasceu em 1990 e já tem 35 anos de estrada e reconhecimento mundial pelo seu trabalho científico que mudou drasticamente a realidade da arara-azul-grande no Pantanal.
Em 2003, foi criado O Instituto Arara Azul, uma organização não governamental que nasceu para acolher juridicamente o Projeto Arara Azul, porém, através da sua expansão, vem desenvolvendo vários outros projetos.
Atualmente o Instituto atua efetivamente em MS, MT e, recentemente no PA, demonstrando excelentes resultados em prol da conservação da biodiversidade, com repercussão internacional.
Para conhecer todos os projetos desenvolvidos pela organização acesse: www.institutoararaazul.org.br.
Figura 1. Apoiadores do primeiro BIG DAY das Araras Azuis
Quadro 1. Apoiadores do primeiro BIG DAY das Araras Azuis.
Instituição | @ |
ACCP | acpp.py |
Aquasis | ongaquasis |
Asora-PY | asoraparaguay |
AZAB (Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil) | azab_oficial |
Biofaces | biofaces |
Birding Chapada Diamantina | birding_chapadadiamantina |
CBL | clb_foundation |
Empresa de consultoria | ticofiladelfo |
Fundtur | fundtur.ms |
Guyra Paraguai – Programa Conservación de Especies | guyra.paraguay |
ICMBio-Cemave | icmbio.cemave |
Icterus Turismo | icterus.ecoturismo |
IHP | ihp_pantanal_ |
Instituto Ecos de Gaia | institutoecosdegaia |
Instituto Mamede | institutomamede |
Instituto Retriz | institutoretriz |
Museo de Historia Natural Noel Kempff Mercado – Bolivia | museonkm |
Onçafari | oncafari |
Parque das Aves | parquedasaves |
Planeta Aves | planetaaves_oficial |
Projeto Arara Azul de Lear | projetoararaazuldelear |
SAVE Brasil | savebrasil |
SERNAP | sernap.oficial |
SESC Pantanal | sesc_pantanal |
SOS Pantanal | sospantanal |
Terra da Gente – EPTV | terradagente |
UFG | oia_passarinhar |
UFT- Campus Arraias | turismo.uftarraias uftoficial |
Vale | valenobrasil |
Vitinho Birdwatching Tours | vitinho_birdwatchingtours |
Wikiaves | wikiaves_oficial |
Zoo de SP | zoosaopaulo |
Texto por: Instituto Arara Azul