O Projeto contou com a parceria do Laboratório de Genética Molecular de Aves da USP, coordenado pelas Drª Anita Wajntal e Drª Cristina Yumi Miyaki, que realizam sexagem e análise de DNA das aves, trabalhos estes que já geraram várias dissertações de mestrado e doutorado, bem como inúmeras publicações de artigos científicos.
O Projeto procurou buscar o envolvimento dos peões e fazendeiros do Pantanal. Além das visitas no campo, entrevistas realizadas pela bióloga Eliza Mense constataram que o rádio era o principal meio de comunicação na região, por isso, mensagens educativas do Projeto foram inseridas num programa de rádio de maior audiência no Pantanal. A população local passou a ser um dos maiores parceiros do Projeto Arara Azul, sendo este um dos principais motivos de sucesso do Projeto e da conservação das araras para a biodiversidade do Pantanal.
Desde o início do Projeto centenas de palestras são proferidas, bem como visitas e reuniões com a comunidade pantaneira. Com objetivo de valorizar a cultura local e propiciar uma alternativa de renda, em 1993 foram iniciadas as oficinas de canto, dança e arte com as crianças pantaneiras na Caiman. Muitos trabalhos foram publicados em revistas e artigos científicos, bem como foram realizadas inúmeras divulgações, em diferentes mídias nacionais e internacionais para a população em geral.
Em 1987 a arara-azul Anodorhynchus hyacinthinus tinha uma população estimada de 2500 indivíduos na natureza, sendo que apenas 1500 eram citadas para todo o Pantanal. Encontrava-se ameaçada de extinção, devido ao tráfico, descaracterização do ambiente e coleta de penas pelos indígenas. Havia relatos de avistamento na natureza, mas poucas informações sobre a biologia e história de vida da espécie.
– 1990-1992 – Cadastro, marcação e monitoramento dos ninhos naturais de arara azul no Pantanal; obtenção e divulgação dos primeiros dados sobre a biologia reprodutiva da espécie na natureza. Busca do envolvimento da população pantaneira na conservação da espécie.
– 1993 – Conclusão do mestrado com 94 ninhos cadastrados, em 11 fazendas no Pantanal da Nhecolândia. Análise das informações básicas sobre a reprodução das araras-azuis. Caracterização do ambiente e identificação dos principais problemas que afetam a população.
– 1994-1996 – Há uma expansão das atividades para 21 fazendas no Pantanal da Nhecolândia, Abobral, Miranda e Nabileque. Tem início os testes com modelos, materiais e tamanhos de ninhos artificiais. Cerca de 193 ninhos estão marcados
– 1997-1998 – Instalação de 105 ninhos artificiais. Há um total de 298 ninhos cadastrados e destes 194 são monitorados. No final de 1998, com a implantação da 1ª Base de campo na Caiman, os trabalhos de monitoramento e manejo passaram a ser concentrados na região de Miranda.
– 1999-2000 – Início dos estudos na base da UNIDERP, na Fazenda Santa Emília no Pantanal de Aquidauana – Rio Negro. Primeiras atividades de manejo dos ninhos naturais. Cerca de 70 ninhos são recuperados, mais 26 ninhos artificiais são instalados e 53 ninhos naturais são cadastrados. Com pouco mais de 400 ninhos cadastrados, 310 (74%) são monitorados. Estudos de sanidade das aves, com veterinários da UNIDERP. Desenvolvimento de palestras e atividades de campo com hóspedes da Caiman. Implantação de um banco de dados com SIG em parceria com pesquisador da UNIDERP.
Em 2000, a população estimada para as araras-azuis no Pantanal é de 3.000 indivíduos.
– 2001-2003 – Há um total de 546 ninhos cadastrados, sendo 346 ninhos naturais e 198 artificiais. O Projeto passa a ser desenvolvido em 45 fazendas em 5 sub-regiões do Pantanal. O monitoramento mais intenso é realizado em cerca de 320 ninhos próximos às duas bases atuais: R.E.Caiman e Pousada Araraúna.
São realizados os primeiros experimentos de manejo de ovos e filhotes com a autorização do “Comitê para Conservação e Manejo da Arara-azul-grande Anodorhynchus hyacinthinus”, coordenado pelo IBAMA. Alguns ovos são incubados com sucesso em laboratório para posterior devolução ou translocação dos filhotes. Pela primeira vez na natureza é possível monitorar o comportamento do casal, ovos e filhotes através da instalação de micro-câmera dentro do ninho. Novos estudos de sanidades são realizados em adultos e filhotes e há relatos inéditos para aves de vida livre.
– 2004-2005 – O Projeto tem sucesso com o manejo de ninhos, ovos e filhotes. A população não só cresce como está expandindo. Vários outros trabalhos começam a surgir no interior do Brasil. A espécie é investigada por um biólogo boliviano treinado no Projeto. Começam os primeiros trabalhos de campo com o manduvi (Sterculia apetala), espécie chave no Pantanal e para reprodução das araras, através do ex-estagiário e biólogo associado, Antonio Santos Jr.
Vários trabalhos são publicados em capítulos de livros, congressos e divulgação para a comunidade em geral.
– 2006-2007 – Prosseguem os trabalhos de campo com monitoramento e manejo de ninhos, ovos e filhotes. Os resultados do Projeto são divulgados num Fórum na França, no Brasil, nos Estados Unidos, no Congresso de Ornitologia Neotropical na Venezuela. Os fatores que afetam o sucesso reprodutivo no Pantanal (desmatamento, queimada, turismo) são analisados na tese de doutorado de Neiva Guedes.
Ao final de 2005 a população de araras-azuis estimada para o Pantanal é de 5.000 indivíduos e constata-se que ela não só aumentou como começou a expandir para outras regiões onde já tinha acabado ou diminuído. O tráfico de araras azuis praticamente acabou no Pantanal Sul e mesmo aves apreendidas no Estado de MS, são provenientes de outras regiões do Brasil. Os resultados das pesquisas são bastante disseminados. Dezenas de acadêmicos, biólogos, veterinários, zootecnistas foram treinados. Proprietários são incentivados a criar RPPNs – Reserva Particular do Patrimônio Natural, começam a replantar o manduvi.
No final de 2006, o Projeto Arara Azul, contabiliza um total de 604 ninhos cadastrados, sendo 386 ninhos naturais e 218 artificiais. O Projeto passa a ser desenvolvido em 57 fazendas em 5 sub-regiões do Pantanal. O monitoramento mais intenso é realizado em cerca de 320 ninhos próximos às duas bases atuais: Caiman e Pousada Araraúna.
Atualmente as araras azuis são encontradas em várias cidades de Mato Grosso do Sul, como Aquidauana, Miranda, Rio Negro e Terenos, esta última a 80 km de Campo Grande, a capital do Estado, onde hoje já habitam as araras canindés (Ara araraúna) e araras vermelhas (Ara chloroptera).