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Foto: Kefany Ramalho – Instituto Arara Azul

O desequilíbrio causado pelo homem deixou uma das maiores belezas do Brasil muito próxima do desaparecimento. Estamos falando da Arara-azul (Anodorhynchus hyacinthinus), uma ave grande e incrivelmente inteligente da família Psittacidae. 

Hoje, é possível que exista mais indivíduos em cativeiro que em vida livre. Mas felizmente, temos observado um crescimento em suas populações, sobretudo na região do Pantanal. Fique por aqui e conheça as principais características e ameaças sobre a ave que deu origem ao Instituto Arara Azul.

 

Aparência inconfundível

Foto: Fernanda Fontoura – Instituto Arara Azul

 

Os psitacídeos compõem a família dos papagaios, periquitos, maritacas e araras. Todos estes possuem um conjunto de características tão marcantes que são facilmente reconhecidas por qualquer pessoa. 

O crânio arredondado, as cores exuberantes das penas e o bico extremamente forte e capaz de romper os frutos mais duros, são uma das mais destacáveis.

Nas araras-azuis não poderia ser diferente. Ela é a maior representante da família, atingindo o tamanho de 1 m de envergadura e pesando cerca de 1,3 kg. Impressionantemente, no período de pico de peso, os filhotes chegam a marcar 1,7 kg.

A plumagem é marcada por um degradê azul-cobalto que se estende da cabeça à cauda, contrastando com o amarelo intenso presente ao redor dos olhos, pálpebras e na pele nua em torno da base da mandíbula. O bico é grande, maciço, curvo e preto, formando quase um círculo com a cabeça, enquanto a língua é espessa e preta.

Foto: Marcos Abdalla Campos

Em pleno voo ou quando exibem suas asas, é possível observar a coloração preta das rêmiges e retrizes, que explica o porquê de também serem conhecidas como  “araras-pretas”.

Foto: Staffan Widstrand

 

Onde vivem?

Há muitos anos, era comum encontrar esses animais em grande parte do Brasil. Mas atualmente, elas ocorrem em apenas três diferentes regiões: 

  1. Pantanal — brasileiro e uma pequena borda do boliviano e paraguaio;
  2. Norte: nos estados do Amazonas e principalmente, na Serra de Carajás do Pará;
  3. Gerais: refere-se à região nordeste, mais especificamente, aos estados de Maranhão, Piauí, Tocantins, Bahia e Goiás. 

Mapa: Distribuição da arara-azul-grande IUCN (International Union for Conservation of Nature) 2016

 

Do que se alimentam?

A alimentação das araras-azuis varia de acordo com a região e a  disponibilidade dos frutos e sementes das palmeiras. As populações pantaneiras se nutrem, principalmente, das sementes do acuri (Scheelea phalerata) e bocaiúva (Acrocomia aculeata). Já em outras áreas, seu cardápio é regado a sementes de inajá, babaçu, catolé e piaçava.

Foto: Kefany Ramalho – Instituto Arara Azul

Embora sejam vistas se alimentando diretamente dos cachos, é mais frequente encontrá-las aproveitando as sementes do chão que já foram digeridas por outros animais como o gado.

Foto: Kefany Ramalho – Instituto Arara Azul

 

Comportamento

Essas aves são incrivelmente sociáveis e com alta capacidade de comunicação, sendo bem comum encontrá-las vivendo em bandos de 10 a 30 indivíduos. 

Foto: Bruno Carvalho – Instituto Arara-Azul

Uma tática muito curiosa adotada por essa espécie é a de se alimentar em grandes grupos. Enquanto o bando desfruta do alimento disponível, uma delas fica de sentinela e, a qualquer barulho ou movimento suspeito, dá um grito de alerta e todas elas saem batendo em retirada. Dessa forma, conseguem se proteger dos possíveis ataques de predadores.

Além das áreas de alimentação, também dividem os espaços denominados “dormitórios”, onde se encontram para descansar, dormir ou ainda, se coçar e ajudar uns aos outros na limpeza das penas, prática conhecida como preening.

 

Reprodução

Entre os 7 e 9 anos atingem a maturidade sexual e iniciam a busca por um parceiro para reprodução, dos quais são fiéis durante toda a vida. 

Depois de formado o casal, facilmente são observados voando e se alimentando juntos até a chegada da época reprodutiva, quando dividem a desgastante tarefa de cuidar do filhote.

Foto: Kefany Ramalho – Instituto Arara Azul

O pico de reprodução é bem variado, mas, em geral, acontece nos meses de setembro e outubro. Mas já por volta de junho, iniciam a procura e reforma de cavidades arbóreas para viverem a experiência da paternidade. 

Durante essa época, a disputa por ninhos entre as araras e as demais espécies fica bem acirrada. Mas pelo menos, essas grandes araras conseguem aproveitar de suas enormes garras e bicos para aumentarem pequenos buracos feitos por outros animais como o pica-pau.

Elas transformam pequenos buracos em uma moradia temporária e digna para seus filhotes. Depois de usá-las, esse espaço é comumente utilizado por outros e, por isso, as Araras-azuis são reconhecidas como importantes engenheiras ambientais.

A taxa de reprodução desses animais é bem baixa, alguns casais só se reproduzem a cada dois anos. As fêmeas costumam botar de 1 a 3 ovos e, enquanto se responsabilizam pela função de chocá-los, os parceiros provêm todo alimento necessário a elas.

O período de incubação dura de 28 a 30 dias, mas nem todos os ovos chegam à fase final da eclosão, pois são alvos de animais como carcarás, quatis, tucanos, gralhas e gambás. Depois de nascidos, os pequenos correm sérios perigos até os primeiros 45 dias de vida, quando ainda estão sujeitos aos mais variados predadores, até mesmo, pelas formigas. 

Curiosamente, o maior índice de mortalidade se dá quando a diferença de idade entre o primeiro e segundo filhote é maior do que cinco dias. Nestes casos, é comum que o segundo não sobreviva.

Cuidado parental

Os filhotes nascem bem diminutos, com 82,7 mm de comprimento e apenas 31,6 g de peso em média e são alimentados por seus genitores até os primeiros 9 -10 meses de vida. Com isso, já se pode perceber que o cuidado parental exercido pelos papais araras é intenso, exigindo muito tempo e energia.

Foto: Fernanda Fontoura – Instituto Arara-Azul

Quando atingem 3 meses, já passaram por uma intensa fase de aprendizagem para que, finalmente, alcem voo e já não voltem mais para dentro do ninho. Mas para isso, os pais arrumam minuciosamente suas penas e se certificam de que aquele pequenino está pronto para voar quando o grande dia chegar.

Foto: Flavia Bouch – Instituto Arara Azul

Chegou o grande dia!

O primeiro voo de um filhote é como os primeiros passos de uma criança. Pode ser um tanto quanto inseguro e incerto, assim como com uma destreza e agilidade impressionantes. De qualquer maneira, de longe, os pais acompanham o desempenho do mais novo voador e com eles, exploram as redondezas. 

Foto: Fernanda Fontoura – Instituto Arara Azul

Durante esse período, vão aprendendo a se alimentar, a voar e, por fim, entram para o bando dos juvenis, deixando os seus pais livres para uma nova fase reprodutiva. Por vezes, esse tempo do nascimento até aqui, duram longos dois anos.

 

Ameaças

As araras são mesmo encantadoras, e infelizmente, a beleza, docilidade e a capacidade de vocalização as tornaram alvos da captura ilegal para comércio no mercado nacional e internacional de pets. 

Além disso, as suas penas eram frequentemente usadas para confecção de colares e cocares indígenas irregulares para venda de souvenirs. 

O tráfico de animais junto à destruição de seus habitats, principalmente pela implantação de pasto no Pantanal e a baixa taxa reprodutiva da espécie são um dos fatores que levou ao quase desaparecimento desse animal, chegando a ser classificado como uma espécie ameaçada pela Lista Vermelha da IUCN.

Graças às diversas iniciativas do Instituto Arara Azul, que nasceram pela paixão da bióloga Neiva Guedes, essas araras que há alguns anos eram classificadas como “Em perigo (EN)”, hoje, estão classificadas como Vulneráveis (VU). Apesar disso já ser um enorme passo rumo à conservação desses animais, ainda temos muito o que fazer! 

Um dos nossos projetos visa à implementação de ninhos artificiais para abrigar os casais na fase reprodutiva e assim, contribuir indiretamente no aumento da população. Inclusive, dos 826 ninhos cadastrados, 353 são artificiais. Incrível, né?

Foto: Fernanda Fontoura –  Instituto Arara Azul

Mas para que isso continue, são necessários frequentes investimentos, tanto em materiais para construção dos ninhos quanto para equipamentos de manutenção. Clique aqui e veja como pode ajudar a manter o nosso trabalho!

 

Texto por Aléxia Ferraz

Revisado por Gustavo Figueirôa