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Monitorar o sucesso reprodutivo das araras-canindés em Campo Grande, MS e perceber, ao longo dos anos, a influência do desenvolvimento da cidade na reprodução delas: esse é o objetivo do nosso Projeto Aves Urbanas – Araras na Cidade! Continue lendo e entenda melhor essa iniciativa.

A chegada das araras em Campo Grande – MS

No final da década de 90, em Campo Grande, houve um período de longa estiagem que associado aos desmatamentos e queimadas na área rural e municípios limítrofes, forçaram o deslocamento das araras em busca de alimento e locais para reprodução.

Assim, em 1999, bandos de araras chegaram a Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. Na época, foram observados grupos de 27 a 48 indivíduos de araras-canindés (Ara ararauna) e de araras-vermelhas (Ara chloropterus). Parte delas se estabeleceu em Campo Grande e com sucesso reprodutivo, as araras-canindés tornaram-se comuns na cidade. O restante migrou para outras cidades, até a divisa do estado com São Paulo e Paraná.

Filhote em Campo Grande. Foto: Larissa Tinoco

A partir de 2009 os primeiros estudos com as araras-canindé na área urbana de Campo Grande se iniciaram, mas foi em 2011 que a Dra. Neiva Guedes decidiu monitorar os ninhos ocupados pela espécie na cidade. 

O interesse em estudar as araras neste ambiente se deu principalmente pela sua ocorrência na área e a falta de estudos com a espécie em vida livre. Aliado a isso, a Dra. Neiva, na época, com mais de 20 anos de experiência com estudos das araras-azuis no Pantanal, decidiu aplicar seus conhecimentos com esta espécie até então pouco conhecida. Assim, surgiu o Projeto Aves Urbanas – Araras na Cidade.

Por que fazer esse projeto? 

Embora as araras-canindés ocorram em quase todo o país, elas não são tão estudadas em vida livre! Assim, desde 2011, acompanhamos o seu sucesso reprodutivo em Campo Grande, e com isso, conseguimos conhecer melhor a espécie. Também conseguimos perceber se, a médio e longo prazo, o desenvolvimento da cidade, irá interferir na sua reprodução. 

O que fazemos 

Para entender melhor esse ciclo, monitoramos periodicamente os ninhos em Campo Grande, desde a postura dos ovos até o vôo do filhote! Para isso, mapeamos os ninhos pela cidade, localizados sempre em troncos de palmeira, quando estão mortas. 

Monitoramento de ninhos na cidade de Campo Grande – MS. Foto: Larissa Tinoco

Hoje já são mais de 350 ninhos cadastrados e monitorados, distribuídos em residências, calçadas, imóveis comerciais, parques e avenidas, muitas vezes próximos ou dentro de áreas verdes. 

E não para por aí. Pouco antes do filhote voar, eles recebem um nanochip e uma anilha, para sua identificação. Alguns deles, ainda recebem medalhas que nos auxiliam na identificação a distância. Equipamento que após cerca de 1 ano, cai. Aproveitamos e também coletamos material biológico, como sangue e fezes, para análise genética, sanitária e sexagem dos indivíduos. Um trabalho árduo, que requer muito esforço de nossa equipe, principalmente entre os meses de agosto a dezembro, podendo se prolongar até fevereiro, na época reprodutiva das canindés.

Estudamos araras-canindés! Mas… e as araras híbridas? 

Os ninhos das araras híbridas, cruzamento de arara-canindé com arara-vermelha, também são monitorados! O cruzamento, que já existia há anos em cativeiro, começou a ser observado em vida livre na cidade de Campo Grande em 2002.

Casal de araras híbridas. Foto: Instituto Arara-azul

Não sabemos se esse cruzamento ocorreu em cativeiro e os filhotes foram liberados posteriormente ou se o cruzamento ocorreu naturalmente, mas é fato que indivíduos híbridos tem pareado entre si e gerado filhotes com sucesso.

Conquistas do Projeto 

Dados reprodutivos

Desde o início do projeto, conseguimos monitorar mais de 360 ninhos, mais de 700 casais se reproduzindo e mais de 1000 filhotes voando pelos céus de Campo Grande. Assim, temos dados detalhados da reprodução desses queridos psitacídeos, em 12 anos de trabalho.

Filhotes de arara-canindé em um ninho no meio da cidade. Foto: Everson Freitas

 

Comunidade e o orgulho das araras

Com o Projeto Aves Urbanas – Araras na Cidade, as araras-canindés tornaram-se símbolo na cidade de Campo Grande. Vários trabalhos educativos de conservação da biodiversidade contemplam esses amados psitacídeos. 

Expedição escolar – turismo de observação dos ninhos. Foto: Larissa Tinoco

Nas universidades e outras instituições de pesquisa não é diferente. Vários trabalhos visando conhecer mais a espécie têm surgido. O interesse da comunidade por essas belas aves, só aumentou. 

 

Leis

Em 2015, através da Lei Municipal de Campo Grande, nº 5.561, de 15 de junho, Art.1º,  a arara-canindé foi instituída como Ave Símbolo da cidade.

Em 2018, a Lei Municipal nº 6.075 proibiu o corte, derrubada, remoção ou sacrifício de árvores, adultas ou não, onde situam-se ninhos de arara-canindé (Ara ararauna) e arara-vermelha (Ara chloropterus). 

E, em 2021, a Lei Municipal n° 6.567, reconheceu a cidade como a Capital das Araras e instituiu o dia 22 de Setembro como o “Dia Municipal de Proteção das Araras”. O objetivo da data é disseminar informações à comunidade, sobre a necessidade de conservar a fauna local, sendo as araras, as espécies-bandeira. 

Clique aqui e tenha acesso ao texto completo dessas legislações. 

 

Turismo de Observação

Bom, se você está pensando em visitar Campo Grande, MS, já deve estar se perguntando se conseguirá ver as araras. E, felizmente, oferecemos um passeio de turismo para a observação delas! 

Neste turismo científico, a nossa equipe faz uma palestra sobre o Projeto e em seguida, levamos vocês para acompanhar o nosso trabalho, o que inclui o monitoramento dos ninhos, dos filhotes e resgates.

Por ser realizado em uma cidade, é possível perceber claramente, que o convívio entre animais silvestres e humanos na área urbana pode ser benéfico e viável! E quando ocorre, ele traz muitos benefícios à conservação da biodiversidade. 

O contato para agendamento e/ou maiores informações, pode ser feito pelo telefone (67) 3222 1205 e pelo e-mail: contato@institutoararaazul.org.br

 

Precisamos da sua ajuda

Adote um filhote

Anualmente a nossa equipe acompanha mais de 350 ninhos em Campo Grande. Muita coisa, né? Para esse trabalho ser possível, dependemos, além de uma comprometida equipe de voluntários, biólogos e veterinários, do apoio financeiro de pessoas e empresas.   Assim, criamos a campanha “Adote um filhote”!

A adoção é simbólica: ao doar para um filhote, você se torna o padrinho dele. Assim, você poderá escolher seu nome e receberá periodicamente informações sobre o seu afilhado. Todo ano é estipulado o valor da contribuição. Para saber mais, clique aqui

 

Outras formas de ajudar

Plantar árvores frutíferas e palmeiras é outra forma de ajudar as araras. Afinal, as árvores darão frutos, ou seja, alimento à elas. E as palmeiras se tornarão ninhos! 

Bom, falando em ninhos, se você acompanha nosso trabalho, já deve ter visto que colocamos ninhos artificiais para ajudar na reprodução das araras-azuis no Pantanal. E possivelmente deve estar se perguntando o porquê jamais colocamos estes ninhos para as araras-canindés.

Diferente das araras-azuis, as araras-canindés não são ameaçadas de extinção. Ao oferecer mais ambientes para elas nidificarem, podemos interferir negativamente no equilíbrio do ecossistema. Então não recomendamos a colocação de ninhos artificiais para essa espécie. 

 

Esperamos que tenham gostado de conhecer melhor o nosso trabalho!

 

Texto por: Jéssica Amaral Lara